Numa cama.

Haverá um dia em que tua saliva secará e não terás mais como sentir o gosto de um beijo molhado dado por ele, mas que lhe molhará em outras partes num jogo de idas e vindas no qual você se perderá e simplesmente deixará estar.

Num dia você não sentirá mais o frio que te fez tremer, mas o arrepio dolorido que provavelmente sentirá, quando outras mãos lhe tocarem o corpo, será digno de memória.

Então chegará o dia em que teus olhos se fecharão num piscar que nunca mais desejará que acabe, pois naquele momento todo o essencial será invisível aos olhos.

Rolará na cama sofrendo de insônia absurda porque teus pensamentos estão longe, talvez algumas ruas ao lado, mas longes de você mesma e sentirá uma saudade que lhe arrebata o corpo e lhe faz gemer de alegria só de imaginar o amanhã.

Sentirá na pele a vontade inenarrável de simplesmente estar ao lado dele, a simples e única vontade de sentir seu cheiro e a singela vontade de lhe olhar nos olhos.

Sim, um dia tua boca sentirá vontades das quais a própria vontade desconhece, teu corpo permanecerá inerte sem poder nem respirar por uma simples frase que teu ouvido captou, tua língua passará por lugares nos quais você nunca pensou em passear e suas mãos desenharão as curvas de um corpo no qual você sente-se viva.

Todas as palavras do Aurélio serão poucas e todos os números serão pequenos perto de tua sensação. Nem o chão será o limite e nem a força da gravidade lhe impedirá de voar. Nem o frio lhe cortará e nem o verão lhe fará suar. Nem os sorrisos mais sinceros serão suficientes e nem todas as lágrimas serão o bastante. Nem as sensações nomeadas serão lembradas e nem os sentimentos serão separados, pois quando passar por todas estas situações e sentires todos estes desejos e motivações "inomeáveis", estará numa cama deitada em lençois de cetim que por aí chamam de 'amor'!